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  • 13/06/2025 08:00
  • Jorge Avancini

Por que o jovem não quer mais carteira assinada?

Durante muito tempo, a carteira assinada foi símbolo de estabilidade, segurança e ascensão social no Brasil. Representava o ingresso no mercado formal e a conquista de direitos garantidos. No entanto, esse modelo começa a perder espaço entre as novas gerações, que cada vez mais optam por caminhos alternativos de trabalho: autônomo, freelancer, intermitente e digital.

Essa mudança não é casual. Trata-se de uma transformação profunda nas prioridades, valores e percepções que os jovens têm sobre o mundo do trabalho. Para muitos, a rigidez da CLT não se alinha aos desejos de autonomia, propósito, mobilidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A ideia de seguir um único vínculo empregatício por anos a fio parece distante — ou até indesejada — para quem cresceu em um mundo em constante transformação.

Além disso, fatores estruturais contribuíram para esse distanciamento. A instabilidade econômica, o aumento do desemprego formal, a flexibilização das leis trabalhistas e os próprios avanços tecnológicos facilitaram a criação de novas formas de ocupação. Ser “dono do próprio tempo”, monetizar habilidades específicas por projeto e se reinventar constantemente passou a ser não só possível, mas muitas vezes mais atraente.

No entanto, é preciso fazer um alerta. A informalidade crescente, por mais alinhada que esteja com os desejos de liberdade e flexibilidade, expõe milhões de jovens à ausência total de garantias: sem previdência, sem proteção em caso de doença ou acidente, sem acesso a direitos básicos como férias remuneradas ou seguro-desemprego.

Esse cenário impõe um novo e urgente desafio: repensar a forma como os direitos trabalhistas são garantidos — não mais apenas pelo vínculo empregatício tradicional, mas também pela organização coletiva, pela representatividade e por modelos alternativos de proteção social.

Sindicatos, legisladores e a sociedade civil precisam estar atentos a esse novo tempo. A atuação sindical precisa acompanhar essa mudança, buscando soluções que representem os profissionais para além da carteira assinada. É preciso inovar nas formas de acolher, representar e proteger os trabalhadores que hoje estão fora do regime formal — mas que também constroem a economia e sustentam suas famílias com seu trabalho.

Não se trata de resistir ao novo, mas de garantir que a modernização das relações de trabalho não signifique retrocesso em direitos. O futuro do trabalho será diverso, descentralizado e flexível. Cabe a nós, como sociedade, assegurar que ele também seja justo.

 

É hora de ampliar o conceito de proteção trabalhista e incluir todos que vivem do próprio esforço. O futuro do trabalho será coletivo — ou será precário. Que lado vamos escolher?

Fonte: SLER

URL original da matéria: https://sler.com.br/por-que-o-jovem-nao-quer-mais-carteira-assinada/

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